Osteosarcopenia: Pilares do Tratamento Nutricional

20/06/2023

A perda de massa muscular e óssea ocorrem durante o processo do envelhecimento em pessoas idosas e estudos tem demonstrado uma forte relação entre os componentes da osteoporose e da sarcopenia no desenvolvimento da osteosarcopenia. A osteosarcopenia é uma síndrome definida pela confluência de baixa densidade óssea e massa muscular, força ou capacidade funcional (MASTIGAR et al.,2020; DUQUE,2020).

Na revisão sistemática e metanálise realizada por Nielsen e colaboradores (2018), a prevalência de osteosarcopenia variou entre 5% e 37% dependendo da classificação da sarcopenia e se os participantes foram classificados inicialmente de acordo com sarcopenia ou osteoporose. Em pacientes com fraturas osteoporóticas, a proporção da sarcopenia encontrada variou entre 7,8-58% e 1,3-96,3% entre mulheres e homens, respectivamente.

A osteosarcopenia é consequência de anormalidades bidirecionais com o tecido muscular ósseo e alterações locais. As células musculares secretam citocinas reguladas pelos ossos, enquanto as células ósseas secretam IGF-1, que tem potenciais propriedades de estimulação muscular (MARTONE et al.,2017).

A alimentação equilibrada e saudável desempenha um papel importante na saúde geral e dos ossos, fornecendo energia, macronutrientes, vitaminas e minerais (PAPADOPOULOU et al.,2021). Os padrões alimentares saudáveis como a dieta mediterrânea tem um importante papel na manutenção muscular (BEAUDART et al.,2017).

Evidências científicas robustas sustentam a hipótese de que a dieta do mediterrâneo pode exercer efeitos positivos no tecido muscular aumentando a força e a funcionalidade devido a grande quantidade de frutas, legumes, vegetais e gorduras monoinsaturadas representando uma rica fonte de substâncias antioxidantes que podem limitar o estresse oxidativo, sendo um dos possíveis mecanismos responsáveis pela sarcopenia (PAPADOPOULOU et al.,2021; SGRÒ et al.,2018). Neste sentido cabe destacar que o resveratrol e outros polifenóis como a quercetina e curcumina também compartilham com propriedades antioxidantes (WILSON et al., 2013 Apud SGRÒ et al.,2018).

Mastigar et al., 2020, recomendam a avaliação nutricional precoce e a intervenção na osteossarcopenia para prevenir o risco de fragilidade. No mesmo estudo, Mastigar et al., 2020, observaram uma associação entre osteosarcopenia e indicadores do estado nutricional e observaram um pior estado nutricional em idosos com osteosarcopenia comparado à sarcopenia e osteoporose isoladas.

O apetite e a ingestão de energia são menores em idosos saudáveis, ​​ sugerindo que o envelhecimento pode afetar a ingestão de alimentos (GIEZENAAR et al.,2016). Ademais, o estado nutricional e o consumo alimentar inadequado com baixa ingestão de proteínas, vitamina D, cálcio e o sedentarismo são os principais fatores de risco para osteosarcopenia (POLIPO et al.,2022).

Na Coreia, no estudo transversal realizado por Yoo et al.,2020, com dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição, os pesquisadores observaram que em idosos com baixa ingestão de proteína na dieta, o consumo de proteína foi significativamente menor no grupo com osteosarcopenia do que no grupo normal.

As diretrizes nutricionais da Sociedade Europeia de Nutrição Enteral e Parenteral (ESPEN), recomendam uma dieta com aporte proteico entre 1,0–1,2 gramas de proteína/kg de peso corporal/dia para idosos saudáveis ​​e 1,2–1,5 gramas de proteína/kg de peso corporal/dia para idosos com doenças crônicas ou agudas (VOLKERT et al.,2022).

Alguns estudos internacionais observaram resultados satisfatórios com a dosagem de 3 gramas ao dia de β Hidroxi β Metilbutirato (HMB), pois promove a síntese de proteínas e reduz o catabolismo através da ativação de diferentes vias, estimulando a ativação de células satélites do músculo e aumento da força muscular (BEAR et al., 2019; DE RUI et al.,2019).

Também existem evidências de que a suplementação de creatina pode ter um efeito positivo no envelhecimento muscular, tecido ósseo e a resposta imune (CANDOW et al., 2019). A dosagem usual pode ocorrer em fases, a primeira é uma fase de carga em que um indivíduo ingere 20 gramas ao dia fracionada em quatro doses de 5 gramas por cinco a sete dias, seguidas por uma dose de manutenção de 3–5 gramas ao dia (BREDAHL et al.,2021).

Recomenda-se uma ingestão de proteína entre (1,2–1,5 gramas/kg/dia) com 2,5–3 gramas de leucina por refeição para idosos, com objetivo de promover o aumento de proteínas contráteis musculares, vitamina D (800 UI/dia) e cálcio (1000–1200 mg/dia) para o tratamento da osteosarcopenia (BEN et al.,2021).

Concluímos que a prática de exercícios físicos de resistência, nutrição saudável, e a suplementação nutricional com proteínas (whey protein), HMB, creatina, vitamina D e cálcio representam uma estratégia importante para prevenir e tratar a osteosarcopenia (POLIPO et al.,2022).

Texto:
Glaucia Campos
Nutricionista – Especialista em Gerontologia pela SBGG

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