A diversidade na jornada oncológica dos idosos, o que temos negligenciado?

06/08/2024

O processo de envelhecimento é uma construção multifatorial que se dá ao longo da vida, são adaptações nas esferas biopsicossociais enfrentadas por todos nós. Ao longo desse processo, identificamos uma série de vulnerabilidades em fatores como gênero, etnia, nível socioeconômico, orientação sexual, mas são nos extremos de idade que identificamos os momentos de maior fragilidade.

A velhice é uma fase da vida bastante desafiadora e novos pontos de vulnerabilidade surgem com maior intensidade nesse momento: aspectos biológicos, cognitivos, emocionais, sociais, existenciais, dificuldade no acesso a recursos sociais, incapacidade funcional, são exemplo de fatores que ameaçam a capacidade de proteger nossos interesses e garantir nossa capacidade de autodeterminação. Um dos pontos de maior ênfase ao discutirmos os aspectos biológicos desse processo, são as comorbidades, dentre elas o câncer tem sido pauta frequente de discussões, por se tratar de uma doença que acaba por gerar uma série de problemáticas, quando a tentativa de cuidar pode gerar sofrimento tão severo quanto a própria doença. No entanto, nosso ímpeto em tratar das comorbidades, acabam por invisibilizar pontos importantes que trazemos conosco como a sexualidade, a orientação sexual e de gênero, fato que pode dificultar a trajetória de nossos pacientes.

O aumento da expectativa de vida da população traz consigo um grande desafio no campo da saúde, já que né nessa fase que enfrentamos um aumento importante na incidência de neoplasias. Essas por sua vez exigem um grande cuidado e rede de apoio

aos pacientes, já que levam os mesmos a uma grande fragilidade. Esse enfrentamento associado ao processo de envelhecimento acaba por amplificar as vulnerabilidades que já pontuamos anteriormente, tornando a jornada oncológica no paciente idoso um caminho extremamente árduo. Em razão disso, a oncologia e a geriatria tem unido esforços com o objetivos de produzir um cuidado cada vez mais humanizado e assertivo, através de instrumentos de suporte, facilitadores do processo de cuidado durante essa jornada. Essa discussão tem sido relativamente frequente em nosso meio já que se trata de assuntos muito presentes em nossa realidade, porém alguns pontos são negligenciados quando focamos nossa visão apenas nas fragilidades características da velhice no aspecto físico e não olhamos para o processo de envelhecimento como um todo, de forma holística, que traz vulnerabilidades construídas ao longo da vida e que fazem parte de nossa existência.

Texto: Viviane Primo Basilio, Anelise Fonseca e Patrick Cerqueira